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Crédito deve ser moderado em 2014
Se o crescimento do crédito for moderado em 2013, como se espera – os resultados ainda serão divulgados no fim do mês –, neste ano a tendência deve ser a mesma.
Se o crescimento do crédito for moderado em 2013, como se espera – os resultados ainda serão divulgados no fim do mês –, neste ano a tendência deve ser a mesma. Com um ritmo menor de crescimento, o crédito também deve influenciar as vendas do comércio. Segundo a pesquisa de projeções e expectativas da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), as operações totais de crédito devem crescer 14,5% neste ano. Para a pessoa física, a evolução no crédito projetada pela pesquisa é de 10,5%.
Os especialistas ainda aguardam os dados oficiais do ano passado, mas a LCA Consultoria estima que o crescimento das operações totais de crédito em 2013 tenha sido de 15%.
Para 2014, a consultoria espera uma elevação menor, de 14%, considerando um desaquecimento de concessões de financiamentos por parte dos bancos públicos, como a Caixa e o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social). "Existe uma orientação do governo para reduzir o ritmo de concessões de crédito em 2014. Na nossa avaliação, o crédito para o consumo deve continuar crescendo em ritmo moderado", diz Wermeson França, economista da LCA Consultoria.
Ele lembra que, em 2013, houve um crescimento puxado pelo crédito direcionado, do BNDES, e do segmento imobiliário. "São linhas de menor risco. Os financiamentos imobiliários devem fechar o ano passado com alta de 33%", afirma.
Pessoa física
Segundo os dados mais recentes do BC, nos 12 meses encerrados em novembro o crédito para a pessoa física cresceu 8,2%, ante 10,5% em 2012. O próprio governo já sinalizou que o ritmo menor de aumento deve atingir um patamar sustentável. Esta trajetória do indicador pode sinalizar um 2014 mais morno para as vendas do comércio varejista. O crédito destinado ao consumo para pessoa física é um dos componentes que influenciam as vendas a prazo do comércio.
Para Emilio Alfieri, economista da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), as vendas à vista devem ajudar o comércio, mas com o crédito mais restrito as vendas parceladas tendem a desacelerar. "Os grandes bancos estão deixando o crédito ao lojista, destinado ao financiamento das vendas de eletrodomésticos ao consumidor, e agora se concentram nos imóveis. É uma linha mais segura. Por outro lado, as financeiras estão voltando a fazer parcerias com os lojistas", explica.
Na avaliação de Alfieri, todo o movimento já produziu impacto no varejo. Os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) já mostraram um recuo das vendas de 8% em 2012 para 4% no final de 2013. "Já foi metade do que cresceu em 2012", completa.
Inflação
Ele lembra que a taxa básica de juros em 10% ao ano também aumentou o custo do crédito ao consumidor para 26% ao ano, embora o juro para a pessoa física tivesse se mantido em dois dígitos, em torno de 24% ao ano, quando a Selic estava em 7,5% ao ano. "O consumidor não sente tanto a elevação do juro e sim o encurtamento do prazo de pagamento", afirma.
Outros fatores de desaceleração do consumo, diz Alfieri, foram a inflação pressionada e o desaquecimento da massa salarial, além do menor ritmo de criação de novos empregos. "São fatores que fazem com que haja não só menos crédito, mas menos consumidores. Com o programa 'Minha Casa Minha Vida', o consumidor deslocou o foco das compras no varejo e buscou conter gastos para entrar em prestações mais longas, com duração de 20 anos a 30 anos", afirma Alfieri.
Para Wermeson França, a estimativa para o crescimento das vendas no comércio é de 4,5% em 2013 e de 4% em 2014. Além do crédito crescendo em ritmo moderado, os fatores que contribuem para isso, no momento, são a inflação alta e concentrada em alimentos, o comprometimento das famílias com dívidas e o custo de financiamento mais elevado, em um cenário de seletividade maior por parte dos bancos. "O índice de comprometimento de renda está em 22% e manteve esse patamar ao longo de 2013, sem quedas. Esse porcentual sobre a renda compreende todas as prestações e financiamentos que o consumidor tem no sistema financeiro. É a parcela da renda das famílias destinada ao pagamento de juros da dívida. É considerada a mais alta em relação aos padrões internacionais do indicador, que está em torno de 15% nos Estados Unidos", diz o economista.
Ajuste
Nicola Tingas, economista-chefe da Acrefi (Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento), lembra que em 2013 houve um ajuste nas carteiras de crédito dos bancos, que privilegiou os consumidores com real capacidade de pagamento. "Essa qualidade nas carteiras de crédito já reflete na queda da inadimplência. O consumidor passou por um momento de aprendizado. Em 2014 vamos ter um consumidor mais ajustado e fazendo escolhas realistas em um ambiente de estímulos, como em todo ano eleitoral", avalia. O economista lembra que, com a inadimplência em níveis baixos, os bancos podem voltar a buscar mais risco para suas carteiras, na tentativa de conquistar mais nichos de mercado. "Existe a procura por um novo mercado de oferta. O crédito ainda roda muito no curto prazo e o desafio é colocá-lo no longo prazo. Vamos precisar ver como será o direcionamento da política econômica do governo, após a eleição, para saber se haverá espaço para o alongamento de prazos no crédito", conclui Tingas.
Fonte: http://www.dcomercio.com.br/2014/01/07/credito-deve-ser-moderado-em-2014