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A falsa rede social corporativa
Cada onda tecnológica (imprensa, internet etc.) torna o compartilhar mais simples, rápido e barato (Charlene Li)
Há uma encruzilhada difícil nesse nosso mundo diante da Revolução Cognitiva Digital. Gostei muito da frase de uma pessoa em São Paulo, que lida com grandes clientes corporativos em projetos de comunicação. Ela me disse que nesse mundo das redes sociais todos estamos procurando sintonizar uma nova estação no dial da rádio, mas ainda estamos distantes. É mais difícil do que parece, a princípio, e talvez mais fácil que nós imaginamos, quando nos decidimos a tentar.
A encruzilhada nos leva e é provocada (causa e efeito) pela falta de compreensão mais ampla do fenômeno e de exemplos eficientes e mais palpáveis dentro das organizações, principalmente.
Tem muita fumaça e pouco fogo. Tem muita medição do que deveria ser meio como fim. E o que deveria ser fim, virando meio! Estamos todos andando no escuro, cheio de buracos pelo chão.
O mercado, por uma questão de falta de tempo e recursos para agir liga o piloto automático que sempre opta pelo caminho mais fácil (o que é natural dada as circunstâncias).
As organizações têm considerado como regra geral que adotar redes sociais é (internamente e externamente) "implantar novas tecnologias e criar nova forma de comunicação na empresa".
Porém, esse caminho é perigoso a curto e médio prazo.
Internamente, as pessoas estão insatisfeitas com a forma que produzem, fazem trabalho repetitivo, pouco inteligente (para não chamar de burro) e se a sub-rede social de comunicação, de fato, "pega" vão começar a reclamar do por que trabalham assim desse jeito.
Quanto mais século XXI é o empregado, mais estranho tudo isso lhe parece.
Externamente, o consumidor,o fornecedor e outros querem falar e ser realmente escutado.
Ou seja, vai se abrir uma caixa de sugestões digital, mas sem alguém que a leia, ou quando tem alguém, sem o poder de mudar o que lhe é sugerido.
É a continuidade do monólogo, com uma cara mais moderna.
Acreditar que isso não vai levar crises regulares é algo, no mínimo, estranho.
É preciso combinar com o outro lado, com aqueles que agora conversam. E antes não conversavam.
O caminho é mais longo, nos leva à mudanças culturais, que fará uma revisão em todas as sub-redes da organização, implicando mudanças profundas, a longo prazo, na forma que trabalhamos.
Estamos reavivando um conceito perdido no entulho hierárquico dos últimos séculos – o da "co-laboração", a procura de um caminho novo de um trabalho mais junto e menos isolado.
Estamos indo para organizações muito mais abelhas do que o de aranhas. Muito mais colméia do que teias pegajosas de cabeça única e muitas pernas.
É preciso revisar nossos conceitos.
As organizações já são e sempre foram redes sociais!
Elas têm problemas maiores ou menores em três sub-redes específicas que se interligam o tempo todo:
- As sub-redes integradas de conhecimento/comunicação/informação - que precisa adotar novos ambientes de diálogo, espaços de armazenamento e produção coletiva de saberes entre os setores, com os fornecedores, clientes, público em geral;
- A sub-rede de relacionamento – que precisa estabelecer novo patamar de confiança de compartilhamento, estimulado e não reprimido todos os stakeholders;
- E a sub-rede de ação - na qual produzimos produtos e serviços, utilizando o potencial máximo das novas ferramentas de colaboração em rede digital, nas quais cada clique é aproveitado como um bem precioso, gerando menos esforço, repetições e aumentando o tempo do corpo funcional para ampliar a dedicação a problemas mais complexos.
Temos que descer do nosso alto altar arrogante da gestão organizacional e ter a humildade de reconhecer que agora é hora de aprender uma nova cultura com os mais jovens que tiveram meios, graças à Revolução Cognitiva, para inovar criar novas alternativas de solução de problemas.
O que precisamos agora é adaptar essa nova cultura criada em ambientes não produtivos de massa e usar essa maravilhosa ferramenta na geração de valor em larga escala. Eis o desafio da administração do século XXI!
Os dois mundos precisam sentar à mesa e aprender a conversar de forma honesta e sincera, sem receios.
Precisamos melhorar e aprender na área do relacionamento como usar o poder da comunicação/informação/aprendizado do Facebook, Youtube, Orkut, Google+, Twitter.
E na produção, inovação como podemos criar coletivamente como foi já feito na construção coletiva da própria Internet, dos softwares livres, das compras coletivas, da enciclopédia livre do Wikipedia, com estamos experimentando curas para doenças e comprar e vender produtos de e para desconhecidos.
Que maravilha!
Ao pensarmos redes sociais digitais nas organizações estamos falando da introdução, de fato, de uma nova cultura de solução de problemas mais ágil, barata, fácil, através do upgrade das redes que nos permitirão nos comunicar, informar, conhecer, aprender, se relacionar e de trabalhar melhor do que fazemos hoje.
Essa integração e esse múltiplo olhar é que vai garantir o alinhamento com o futuro.
Não é eficaz iniciar esse processo, acreditando que vamos importar apenas uma parte dessa maravilhosa criação humana, que uma nova geração de jovens têm dedicado milhões de horas para construir.
Que se queira começar pelo mais fácil, tudo bem, mas não vamos nos iludirmos que é só isso.
Implantar redes sociais apenas na comunicação ou no relacionamento é apostar em dois resultados prováveis:
- criar o projeto, gastar dinheiro e ver ela ficar abandonada, como ocorreu já com as Intranets;
- ou vê-la crescer e gerar uma crise de pessoas querendo mudanças na rede de ação, tanto fora como dentro para as quais a empresa não está preparada – um tiro no pé.
Precisamos procurar mudar a forma como as pessoas se comunicam/se informam/se relacionam e trabalham. E isso não é uma opção na gestão, mas um caminho inevitável.
Esse é o equilíbrio na melhoria das três sub-redes que vai gerar valor para as organizações e alinhá-las ao futuro, evitando cair na armadilha da falsa rede digital corporativa.
Que dizes?